O Manual do Investidor anjo por Cassio Spina

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Este terceiro episódio cujo tema é “O manual do investidos anjo por Cassio Spina”. Cassio Spina é o convidado deste episódio da 3a temporada do Papo de M&A, ele é entrevistado por Allan Fonseca e Felipe Wasserman. Cassio Spina foi empreendedor na área de tecnologia por 25 anos, tendo fundado sua primeira empresa aos 19 anos. Fundador da Anjos do Brasil, entidade criada para fomentar o investimento-anjo para apoio ao empreendedorismo de inovação brasileiro.

Autor dos livros “Investidor-Anjo – Como Conseguir Investimento para seu Negócio” e “Dicas e Segredos para Empreendedores”.

Transcript do episódio

Kadu: Olá. Bem vindos ao Papo de M&A, o podcast semanal da Pipeline Capital, que vai ao ar todas as segundas pela manhã. A Pipeline Capital é um escritório de M&A focado em empresas tech driven, orientadas e movidas por tecnologia. 

Eu sou Kadu Pedreira, head de relação com o empreendedor, e vou te levar para mais um episódio sobre o mundo do M&A.  Hoje meus sócios, Allan Fonseca, head de marketing, e Felipe Wasserman, head growth hacking conversam com o Cássio Spina.

O Cássio é fundador e presidente da Anjos do Brasil, entidade criada para fomentar o investimento-anjo para apoio ao empreendedorismo de inovação brasileiro. Foi empreendedor na área de tecnologia por 25 anos, abrindo sua primeira empresa aos 19 anos. 

Na sequência, o Felipe e o Allan batem um papo sobre o que rolou na entrevista. 

Cássio: Cara, se você tem uma boa ideia, execute ela. Mostre que sua ideia é boa de verdade.

Felipe: Se você não passa credibilidade que você vai realizar, pode ser melhor ideia do mundo e não vale

Allan: É muito mais importante que um deck bonito, de um pitch, né? A ideia realmente acima de tudo.

Felipe: Bem-vindo, Cássio. Já fomos parceiros em grupos de anjo. E é uma honra estar aqui, porque, para mim, você é um dos desbravadores, assim, do Mundo de Anjos do Brasil. Quando você começou a criar Anjos, acho que, metade dos brasileiros não sabiam nem o que era startup. Empreendedorismo era abrir padaria. Não sabia nem o que era Tech, não existia Fintech, não existia nada Tech. Então, isso começou há um bom tempo. Queria que você contasse um pouco como você entrou nesse mundo, como você chegou até a abrir Anjos do Brasil.

Cássio: Legal, Felipe. Primeiro prazer, obrigado pelo convite. É um prazer poder compartilhar um pouquinho da experiência acumulada nesses anos todos. Enfim, minha história, na verdade, começou como muitas empresas começam hoje, ainda na faculdade eu fundei a minha startup. Não existia esse nome naquela época, era uma micro empresa. Fiz uma jornada empreendedora por 25 anos, com muitas experiências, muito altos e baixos, é claro, como todo empreendedor. E quando vendi o último negócio, eu tinha uma empresa e resolvi falar “bom, empreender já foi suficiente para mim e agora quero ajudar novos empreendedores” e ajudar como? Com esse modelo de investimento Anjo nos Estados Unidos, eu tinha muitos conhecidos meus que faziam isso lá, a gente começou a fazer isso aqui no Brasil também. E foi aí que comecei a enveredar nesse universo aqui, né? Que tem sido muito prazeroso, uma realização muito grande de estar participando desse ecossistema e podendo ajudar um pouco.

Felipe: Continuando, aqui, eu queria saber um pouco da sua história de M&A, você já vendeu uma empresa sua e você já investiu muito em outras empresas, já está no conselho. Eu queria ouvir, como é o quesito da venda, como é o quesito da compra, como é participar?

Cássio: Essa história minha começou, eu diria em 95, foi quando eu fiz meu primeiro M&A, foi uma aquisição, na realidade. Já tinha uma empresa minha, estava crescendo e tinha um parceiro de negócios, era uma outra empresa que a gente meio que trocava figurinhas. Naquela época, tinha um time meu, pequeno ainda, não era muito grande. Mas vi, senti que era uma oportunidade realmente, aí fiz uma proposta para ela, “vamos juntar”, como diria vamos juntar os trapos, né? Vamos tentar unir. E aí eu fiz a aquisição da empresa dele, a maior parte, eles continuaram sócios participando, parte em cash out, parte em troca de ações, para eles continuarem como sócios diretores da empresa. Essa foi a primeira transação que eu fiz, assim, nessa área. Depois, a segunda transação foi uma coisa meu contrário, fui procurado por fundos de investimento, fundos de venture capital. Logo depois do estouro da bolha, isso nos anos 2000, 2002 e 2003.

Cássio: Com essa primeira conversa que eu tive, naquela época, eu já não precisava mais de dinheiro, a empresa já era lucrativa, já gerava seu caixa, né? Foi bootstrap, daquele momento, mas comecei a perceber que eles faziam mais que algo que capital, eles traziam uma experiência, uma inteligência, uma visão de fora, coisas que eu comecei a ver que tinha valor, que poderiam agregar pro meu negócio. E aí, conversa com, conversa com outro e acabei no final, evoluindo, eu tinha um novo negócio que estava querendo desenvolver, que eu vi uma oportunidade e acabei fechando com um fundo para poder, justamente, desenvolver essa nova oportunidade que eu estava vendo ali, fazia sentido aí. Foi uma experiência muito positiva, como já comentei anteriormente, não só como negócio, talvez não tenha sido grande resultado, nem pra ele, nem para mim, sendo bem sincero, neste caso específico, já tive bons negócios, negócios que, às vezes, não foram tão bem como esperava. Mas, assim, acho que do ponto de vista de aprendizado, de relacionamento, realmente para mim foi muito bom.

Cássio: Comecei a perceber que, na realidade, esses fundos, nas conversas que eu tive com eles, eles traziam mais que dinheiro, traziam inteligência, traziam experiência, traziam a visão de fora, porque você está tão envolvido no seu negócio no dia a dia que, às vezes, tem coisas para quem olha de fora são óbvias e para quem está envolvido, não enxerga, né? Enfim, foi uma experiência muito positiva. Hoje tenho um ótimo relacionamento com ele. Aprendi muito com ele, espero que ele tenha aprendido um pouco comigo também. E depois, acabei fazendo mais algumas transações de M&A e, finalmente, chegou o momento de saída, o fundo também tem aquele ciclo, típico de cinco anos, e acabei fazendo a venda do meu último negócio.

Cássio: E agora, depois que eu passei a atuar como investidor, hoje, eu digo, assim, faço muitas pequenas ações investindo nas startups que eu ajudo e ajudando elas, muitas vezes, até usando essa experiência toda acumulada que a gente ficou esses anos todos aí empreendedor e, também, na área de M&A. Dando direcionamento para elas, de como fazer. Enfim, acho que é compartilhando um pouco dessa experiência acumulada nesses anos todos. 

Felipe: O que você acha que mudou desde essa época de empreendedor pra investidor? Mas, por exemplo, nas suas compras de empreendedor, você fazia deck? Existia essa regra? O que mudou nos seus M&As, como empresário, para seus M&As como investidor?

Cássio: O formato, o conteúdo, o formato era diferente. Hoje, eu acho que é muito mais objetivo, muito mais dirigido, sintético, muito mais prático, eu diria. Antigamente você fazia planos de negócio, 50, 70, 80 páginas. A gente brincava, que é pra ninguém ler, era só pra ficar aquele calhamaço lá bonito, na mesa. Mas, enfim, o processo em si, eu acho que não mudou tanto. As etapas, elas são muito parecidas, mas o conteúdo delas, sim, evoluiu muito, eu entendo. A ações de M&A, que eu fiz lá atrás, se comparar com hoje, como eu falei, a forma com você apresenta, o conteúdo que você tem, como você desenha, como você modela, evoluiu muito e, isso, realmente mudou bastante. 

Allan: Cassio, é o Allan falando aqui agora. Pegando um pouco o gancho do Felipe nessa questão, eu acho que eu chamaria você de empreendedor raiz, né? Um dos precursores desse fomento do ecossistema de investimentos no Brasil. Mas aí, sobre essa mudança, se não houvesse, o valor do cheque mudou? O que evoluiu nessa parte, né? Porque, é claro que a gente está vivendo um momento muito bom para, de certa forma, o M&A no Brasil, né? Você tem visto e o mercado está se movimentando bastante. Esperamos que esse ano seja até recorde mesmo no país, com relação até a IPOs e transações também, isso fomenta o ecossistema inteiro.

Cássio: Não, com certeza mudou. O tamanho de cheque mudou muito. Alguns exemplos, quando eu comecei a investir em startups, os cheques grandes, vamos dizer, eram cheques de 3, 4, 5 milhões de reais. Hoje os cheques de 3, 4 bilhões de reais.Então, pra você ver que,  realmente, mudou muito esses últimos dez anos, né? Em relação a minha época de empreendedor, também diria óbvio, também mudou bastante o tamanho do cheque. Teve uma época, eu lembro que não está tão conectado diretamente, mas acompanho muito aquele movimento da bolha da internet, que tiveram um mega cheques também na época, não podemos esquecer umas transações, BuscaPé, por exemplo, 340 milhões de dólares, que, para a época, foi uma saída fantástica.

Cássio: Depois veio o famoso Inverno nuclear, que a coisa meio que, não digo parou, mas ficou muito menor. E agora, recentemente, a gente está vendo um movimento muito grande de aumento.

Cássio: Então, é natural que o fluxo de capitais, que é algo que a gente já via lá fora acontecendo, os Estados Unidos têm um mercado significativo. Esperamos que isso se mantenha e continue, de uma forma sustentável, uma forma que não vire uma bolha também, não queremos virar bolha, porque bolha gente sabe o que acontece. 

Felipe: Agora, olhando você como Anjos do Brasil, vendo esse mundo de startups nesses últimos 10 anos. Cada ano, as pessoas tendem a valorizar uma área e, não somente uma área, um segmento, e, às vezes, até detalhes. Por exemplo, agora, a gente está na parte também analisando a diversidade. Então, um time só de homens brancos, assim, perde um certo valor. Procura-se diversidade, procura uma questão de cultura, uma questão de ética. O que as pessoas olhavam, no começo quando você começou a investir, quais segmentos existiam? E como teve essa trajetória, assim? Que você percebeu que mudou, não mudou e desenvolvimentos? 

Cássio: Bom, acho assim, no começo o que você olhava muito, era muito a sustentabilidade do negócio, principalmente no financeiro. Justamente, pela falta de, tinham muitos gaps em termos de captação, não tinha sindcaps, tinha dois, três fundos, eram pouquíssimos fundos. Series A e B não existiam no Brasil, você tinha que ir para fora buscar. Então, qual era a preocupação quando a gente investia? Será que eu estou investindo nessa empresa num cenário que ela não consegue captar? Ela consegue parar em pé minimamente? De que adianta investir em você e você morrer na praia, porque você não tem dinheiro para a próxima rodada. Hoje, você já pode se dar ao luxo de investir em negócios que a gente sabe que, talvez, o ponto de equilíbrio, o breakeven, vai ser mais longo. Ok, porque você tem disponibilidade de recursos para continuar as novas rodadas sustentarem esse negócio, um crescimento acelerado. Então, acho que esse é um dos aspectos que mudou. Claro que tem muitos outros. Acho que você colocou alguns, como a questão da diversidade, que a gente considera essencial em vários aspectos, principalmente o aspecto social. Eu acho que a gente tem que ser mais inclusivo com todo mundo. Existe um desafio muito grande de você equilibrar oportunidade, mas é não só por isso não. Tem vários estudos que mostram que empresas que têm mais diversidade, elas também têm melhores resultados.

Felipe: Sobre o que a gente falou sobre o lado das empresas, e o lado dos Anjos, o lado dos investidores? O que mudou? Como você viu o desenvolvimento desse mercado de Anjo? Com a entrada de crowdfunding, com a entrada dos grupos, como você viu o desenvolvimento desse mercado que você foi um dos desbravadores?.

Cássio: Eu acho que é muito aprendizado, né? Batalhou bastante. Por exemplo, a gente fez muitas missões internacionais, com o objetivo de aprender, não é conhecer só, é aprender. Então, ia lá, conversar, entender os Estados Unidos, como é que o pessoal investia daquele jeito, como é que eles faziam. Então, levamos vários investidores para Israel, que também tem um ecossistema super forte e super bacana, para aprender com eles. Tinham lá investidores que tinham feito, há 20 anos, tinham feito mais de 300 investimentos. O Brasil estava e ainda está muito defasado, por mais que tenha evoluído muito, a gente quando se compara os números internacionais, se vê que o Brasil está muito aquém do que deveria estar. Então, o que a gente vê é essa evolução, essa maturidade que muitos investidores têm, mas ainda temos o desafio que é atrair mais investidores e capacitar eles, preparar eles, para que eles saibam como fazer da melhor forma, para poder ajudar os empreendedores e também ter um bom retorno.

Allan: Mas, quem quer investir, assim, que tipo de pessoa pode virar um investidor Anjo? Ou, a partir de quanto eu posso investir? Até o que eu olho pra fazer isso, né? Eu tenho um dinheiro, tenho um tanto, é um valor, é um percentual? 

Cássio: Boas práticas dizem que você não deve comprometer mais do que dez por cento do seu capital líquido em investimento de startups, por que isso?  Porque ainda são investimentos que têm risco mais elevado que vão para outro ativo e não tem liquidez, quer dizer, não é que não tem, tem, mas é muito médio e longo prazo. Dito isso, coloco uma ressalva, o mercado está evoluindo, e essas condições vão cada vez ficar melhores. A gente tem discutido muito agora o mercado secundário de startups, que é quase como se fosse uma mini bolsa de valores, que você possa comprar e vender participações em startups e isso vai aumentar a liquidez, mas hoje, ainda, eu diria que essa é a limitação. Tamanho de cheque, eu diria assim, para investimento anjo, por startup você deve investir 10, 15 mil reais. Aí, não tem muito teto, pode ser 30 mil, 50 mil, 100 mil, lembrando que você vai ter que distribuir o seu capital entre, pelo menos, dez startups. Então, se você falar assim: “olha, eu quero investir 10 por cento do capital líquido, anual”, não precisa ser seu patrimônio atual, porque você vai investir isso ao longo dos anos. Então, você também tem sua renda anual, que junta ao capital, mas por ano eu estou disposto a investir 100 mil reais por ano. Ok, você vai poder investir em talvez duas, três, quatro startups por ano, que é um bom número, vai montar seu portfólio ao longo do tempo. É importante ter isso, continuidade, se diversificar. E vai conseguir construir. Agora, você vai chegar e falar: “Cássio, putz, não tenho esse dinheiro. Eu posso investir no máximo 5, 10 mil reais em startups”. Faz uma plataforma de crowdfunding, que permite você apostar, investir, fazer seus investimentos que você tem nessas startups também. E também não adianta você, porque também tem um detalhe, o investimento anjo não é só dinheiro, é agregar valor, e agregar valor é tempo. Então, também tem que ser algo que vai te dar retorno financeiro e compense o tempo que você dedicou, porque se o seu cheque é muito pequenininho. Falar vou por 5mil reais, ok tirou um retorno de 20 vezes, que é um ótimo retorno, você ganhou, aí tudo bem, 100mil reais, bacana. Mas será que compensou todo o tempo que dispôs? Talvez não, entendeu? Por isso, não vale a pena fazer um cheque de 5 mil reais para investimento Anjo. É melhor fazer um crowdfunding. Agora, colocou 20, 30 mil reais e multiplicou isso por dez, vinte vezes, pagou seu tempo, deu um bom retorno para o seu dinheiro e seu tempo trabalhado. Aí eu digo, assim, o requisito, né? E como é que você faz isso? Acho que duas recomendações básicas, eu diria, assim, primeiro estude, leia, conheça, a gente várias coisas. Eu escrevi já um livro sobre o tema. Tem várias publicações aí, na internet. Mas, também não adianta só a teoria, tem que ver na prática. Enquanto você não for lá, investir pela primeira vez, não adianta. Você sabe a teoria, mas não vai saber como é que a verdade das coisas. E aí, a recomendação é investir em grupo. Tem vários grupos, vários deles no Brasil com investidores mais experientes que vão liderar aquela rodada e você vai aprender com eles. Esse aprendizado depois, você pode se tornar futuramente até um líder investidor.

Felipe: Para as empresas que querem receber investimento Anjo. Que tipo de empresa vocês estão olhando? Como elas aparecem para vocês? E o que elas deveriam ter? O que elas deveriam se preocupar? Como elas decidem quanto elas valem? Que é que vocês olham e brilha o olho de vocês?

Cássio: Bom, assim, vou começar a responder pelo final. O que brilha o nosso olho sempre é o empreendedor ou os sócios, tem que ter mais de um, sempre gosto de investir em startups que tem sempre dois ou três sócios fundadores. Para poder ter uma certa redundância e complementaridade de captação. Então, assim, o que brilha o olho é a capacidade de execução. É o quanto eles conseguem me mostrar que eles conseguem tirar as ideias do papel e botar na prática e executarem. Uma frase que eu uso muito é: executarem muito com pouco dinheiro. Que aí multiplica o dinheiro. Então, o que o empreendedor tem que ter na cabeça, para investimento Anjo, também vale para fundos de venture capital, vale para todos os próximos estágios. É importante que tem que ter escalabilidade, inovação e que atinja grandes mercados. Então, esses são os pré-requisitos. Mas o que a gente vai olhar, no fundo, são os empreendedores. E falei, vou olhar muito a capacidade de execução. E como a gente olha a capacidade de execução? De várias formas. Vê um pouco do histórico deles, o que eles já fizeram no passado. Vê o que eles estão fazendo nessa startup, o quanto eles já conseguiram construir algo. Então, tudo isso é que a gente vai considerar para poder tomar uma decisão de investimento nesses empreendedores.

Felipe: Se você fosse empreendedor, agora, com 20, 30 anos, fosse escolher um segmento e falar: “se eu criar uma empresa nesse segmento os Anjos vão brilhar o olho”, que segmento seria?

Cássio: Ótima pergunta. Eu tive muitas ideias quando eu era empreendedor. Mas aquelas que deram certo, não foram as minhas ideias, foram o que os meus clientes me pediram.

Cássio: O que eu falo para todo empreendedor, não precisa ficar caçando coisas, procura ao seu redor quais são aquelas necessidades, aqueles problemas, aquelas oportunidades significativas. E tem que ver se você consegue construir uma solução que resolva aquele problema de uma forma muito melhor. Ordem de grandeza. Não adianta ter um pouquinho melhor. Tem que ser ordem de grandeza melhor do que existe no mercado. Não importa setor.

Cássio: Olha que você vai achar boas oportunidades, e achando uma boa oportunidade, vai ter investidor para você. 

Allan: E Cássio, aquela história de, se eu lançar e ficar com vergonha do que eu lancei, sempre está valendo, né? Antes de esperar ficar o melhor possível, o ideal nunca vai ter o ideal, né?

Cássio: Com certeza, com certeza. Cara, o importante é você resolver o problema.

Cássio: Se você resolveu o problema, não importa que a coisa não seja a mais bonita do mundo, não seja a mais perfeita do mundo. O importante é resolver o problema. Resolveu o problema? O cliente vai comprar. Eu sempre cito, todo mundo, um caso que eu acho perfeito. O Google, cara, quer um site mais feio que o Google? Não tem, pô! Coisa mais grotesca, com todo respeito. 

Allan: Uma questão aqui em cima desse assunto, também. Vamos dizer que eu já tenho essa ideia, já tem um protótipo, já comecei a trabalhar. Eu acho que a ideia é muito boa. Eu vou precisar de um investidor Anjo. O que eu faço? Como é que eu chamo a atenção? Da onde? De quem? 

Cássio: Primeira coisa, executa. É o que eu falo para todo empreendedor. Não adianta você vir com uma ideia linda e maravilhosa, se você não mostrou o mínimo que você consegue transformar essa ideia em algo concreto e realizável. O que faz a diferença, a gente sabe, é a execução.

Cássio: Cara, se você tem uma boa ideia, execute ela. Mostre que sua ideia é boa de verdade, que é trazer cliente, trazer usuário, entendeu? É isso que atrai a intenção. Eu tenho um caso meu, que eu sempre gosto de contar. Umas das primeiras startups que eu investi, eu entrei no elevador. Foi literalmente assim, verdadeiro. Tinham dois empreendedores lá, que viram meu crachá. Tudo bem que estava escrito investidor. “Posso fazer um pitch?”, fizeram o pitch deles no elevador e eram três andares só. E me conquistaram a atenção, muito simples. Porque fizeram uma coisa muito simples pra mim. Era um aplicativo. Tiraram, mostraram o aplicativo que eles tinham feito, que era meio grotesco, mas tinham feito coisa. E ainda tinham usuário, que já pagava pelo aplicativo. Falei, “pô, tem alguma coisa aí”. Se já tem gente usando, negócio grotesco, assim, pagando pra isso? E aí a conversa evoluiu depois que descemos do elevador e foi evoluindo, até a gente fechar o investimento neles. Percebe, cara? Não precisa ter mágica, não precisa ser pitch lindo, maravilhoso. Mostre o que você fez, mostre que tem gente que gosta de usar o que você fez. É isso que atrai investidores. O resto é só perfumaria.

Felipe: Quando você começou, nem existia Anjo no Brasil, era uma coisa que você pegou nos Estados Unidos. Hoje, com esse desenvolvimento, você acha que o Brasil, perto dos Estados Unidos ou a Europa, ou até China, que está crescendo muito nesse mundo dos investidores, assim, a gente está no nosso desenvolvimento, a gente está em que fase?

Cássio: Bem atrás do que a gente deveria. Só para dar alguns números, a gente faz uma pesquisa anual, em 2019 o Brasil atingiu a marca de investimento Anjos de 1 bilhão de reais investidos, o total. Os Estados Unidos investiram mais de 22 bilhões de dólares. Se você comparar com outros, pensando que o PIB brasileiro é 10% do PIB americano, então a gente deveria ter investido, a grosso modo, 2 bilhões de dólares. No câmbio de hoje, mais de 10 bilhões de reais. Para você ver que, assim, para ter uma proporção, nós deveríamos estar dez vezes maior do que nós estamos hoje. Então, você compara isso você vê, realmente, o quanto ainda está atrás, mas estamos evoluindo rápido, a passos largos. Agora, a experiência internacional mostra que, na Europa eles conseguiram resolver muito investimento Anjo através de políticas de estímulo ao investimento em startups. Os governos, Reino Unido, Portugal, França, agora mais recentemente, na Itália, todos eles chegaram à conclusão que qualquer estímulo que você desse ao investidor Anjo, mais que se pagaria. Quando os estímulos são, realmente, reduções, renúncias fiscais sobre os investimentos, está certo? Porque investir ainda tem um custo alto tributário. E aí, quando eles fizeram essas políticas, as curvas de lá inflexionaram para cima.

Cássio: Então, o que falta no Brasil, ainda, é uma política de estímulo para poder levar o Brasil para um patamar, minimamente, comparável pelo tamanho do país.

Felipe: E o juros baixo também está ajudando pra caramba. Galera desaprendeu a investir fácil, né? 

Cássio: A bolsa está bombando. Fundo imobiliário também. Agora, para startup está vindo um pouco disso? Está vindo, mas não está vindo como deveria vir. Cara, a gente deveria estar bombando, nesse sentido. E não está, está crescendo, está aumentando, mas não está nesse nível. A gente vê no dia a dia nosso. E lá fora mostrou, o Reino Unido é muito claro, inclusive fizeram a missão com o Ministério da Economia de lá. O pessoal foi muito prático, quer aumentar? Esse é o caminho.

Allan: Chegamos ao final do nosso Papo de M&A com Pipeline. Gostaria de agradecer, de novo, o Cassio Spina. Mostrando um pouco do atual ecossistema das startups e M&A. A gente aprendeu muito com você, foi uma aula. Cássio, obrigado, de novo.

Felipe: Muito obrigado Cássio. Foi uma aula. Aprendi muito aqui. Um abraço. 

Cássio: Eu que agradeço, gente. Pelo convite, prazer grande mesmo. Desejo sucesso para você , sempre. E contem comigo, para o que precisarem, estou à disposição. 

Allan: Filipe, que lição aqui a gente ouviu agora do Cassio Spina. Acho que teve pontos muito importantes, aí, para quem está em busca de investimento. Quem quer fazer investimento. Quem é empreendedor. Acho que a gente conseguiu abordar um pouco de tudo aqui. Um ponto que ficou muito claro, para mim, sobre o quanto você precisa se preparar para vender sua ideia. No final, o mais importante de tudo, é ter essa capacidade e entrega. Fazer acontecer, fazer o negócio virar. É muito mais importante que um deck bonito, de um pitch, né? A ideia realmente acima de tudo. 

Felipe: Ele falou muito do empresário acima de tudo, né? Então, soa, muitas vezes, até como uma entrevista de emprego. A sua história é importante. O que você vai realizar e tudo, é muito importante, mas se você não passa credibilidade que você vai realizar, pode ser a melhor ideia do mundo e não vale. Mas é muito interessante, nesse mundo de M&A que a gente trabalha e que é o tema do podcast, a gente trabalhar todas as vertentes. É o investimento Anjo, o investimento de startup, crowdfunding. Então, começar com essa parte inicial, das empresas que estão procurando Anjo, que vão ser grandes. Hoje, as grandes empresas bilionárias do mundo começaram com investimentos pessoais, investimentos Anjos e cresceram muito. E fizeram IPO e estão crescendo no mercado, e é muito legal. E como a expectativa de vê aí que o mercado ainda é minúsculo. A gente fala muito sobre investimento Anjo, sai na mídia, tem shark tank, tem um monte de coisa falando, mas comparado com o mundo, o mercado é minúsculo. O potencial desse mercado no Brasil é reconhecido, nós nos reconhecemos como um país empreendedor. A gente não se adaptou ainda como funcionar no mercado de juros baixo.

Felipe: Então, o potencial que vai ter aí é de inovação, de empreendedorismo e desse lado do investidor Anjo, que quer participar desse meio também.

Allan: Perfeito, e esse potencial, também, a partir desses comentários que, hoje, você pode, qualquer pessoa poderia investir em plataformas de crowdfunding e qualquer valor, né? A gente está falando a partir de 10 mil reais, por exemplo, conseguiria investir. Claro que de uma forma mais consolidada e com crescimento. Mas é muito legal, porque além da economia que tem avançado nesse ponto, dos IPOs que a gente comentou aqui desse ano, da quantidade de transação prevista para 2021, realmente, está sendo bastante animador. Isso abre um leque enorme para esse mundo de M&A que a gente está vivendo.

Felipe: Foi um episódio muito interessante. Acho que a gente trabalhou muitas frentes, né? Tanto a frente do investidor, quanto à frente da empresa. Acho que é muito legal ver os dois caminhos e é muito legal que é uma coisa que eu espero que aconteça cada vez mais, que é empresários que tiveram sucesso, passar para o lado de investidor. O mercado precisa disso. Então, é uma honra começar essa entrevista com o Cássio Spina, que foi empresário e, não somente investidor, como criou, ajudou a criar um ecossistema de investimento no Brasil, que hoje está ficando cada vez mais forte.
Kadu: Com isso, finalizamos primeiro episódio da terceira temporada do  podcast da Pipeline Capital: Papo de M&A. Esperamos a sua mensagem de voz ou de texto com os comentários e sugestões, através do nosso WhatsApp 11 5199-0880. Para seguir a gente no Linkedin.

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