Bancos Centrais e a aventura da (sua própria) moeda digital

Autor: Pipeline Capital
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Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner da Pipeline Capital Tech.

 

Você deve já ter lido por aí, mas vale um catadão aqui.

 

Estima-se que ao menos 100 bancos centrais no mundo estejam pesquisando e buscando estruturar, neste exato momento, sua particular versão de uma moeda nacional digital. 

 

Internacionalmente, essas moedas são chamadas de CDBC, ou Central Bank Digital Currency. O Banco Central do Brasil anunciou, em maio do ano passado, que está analisando suas hipóteses. Semana passada, depois de um longo período mais caladão, o Federal Reserve, banco central dos EUA, emitiu um longo documento sobre o tema. Nada definitivo, mas abriu discussão sobre o tema no maior e mais influente sistema bancário do mundo. E ele é isso porque o dólar norte-americano é usado para aproximadamente 90% de todas as transações monetárias do mundo. O gigante se moveu.

 

E qual a importância dessa discussão toda para você e eu? E para nossa economia? E para os nossos negócios? Total.

 

Trata-se de mais um pedaço da evolução transformadora mais relevante do conceito de dinheiro no mundo desde que existe o conceito de dinheiro.

 

Aliás, já que toquei no tema, você sabe o que é dinheiro? Humm… sabe mesmo?

 

Então, pra você, vou ser repetitivo.

 

Dinheiro é um meio de troca entre valores e bens, que intermedia e substitui o escambo. Escambo é a troca direta de coisas por coisas. O dinheiro traduz essas trocas em valor monetário. 

 

Acima de tudo, dinheiro é uma unidade padrão socialmente aceita com a qual as coisas são precificadas.

 

No fundo, cá entre nós, dinheiro não passa de uma ficção financeira. Um combinado de caráter comercial e econômico entre os homens. Pactuamos que dinheiro vale por algo que temos ou que outro tem e é ele que pode facilitar que intercambiemos esses “algos”.

 

E aqui fazemos a ponte para a história dos bancos centrais. Dinheiro é uma coisa, Moeda é outra. A principal diferença entre Dinheiro e Moeda é que o dinheiro é inteiramente numérico, ou seja, é apenas intangível. Você não consegue tocar ou cheirar. Já Moeda você pega, cheira e guarda no bolso ou na carteira. Ou ainda, no banco.

 

E chegamos aos bancos. Mas antes de continuar, você precisa entender o que é fiduciário.

 

Fiduciário é o que falei acima. Um combinado. Neste caso, algo que tem valor e que depende da confiança a ele atribuída e outorgada. E reconhecida. É doido, mas é sobre ética e confiança que se assenta tudo o que conhecemos sobre moedas.

 

Dinheiro fiduciário é uma moeda emitida pelo governo que não é apoiada por uma mercadoria física, mas pela estabilidade do governo emissor.

 

Pronto, agora você, que certamente já sabia a diferença entre Dinheiro e Moeda, e o que é fiduciário, está pronto para entender a importância das moedas digitais. E é bem simples. Os conceitos acima são bem mais complexos.

 

Moedas digitais são, basicamente, uma versão virtual da moeda de um país, usada para tudo que a grana física também é. Só que no mundo dos bits e das conexões da internet e das plataformas tecnológicas que gravitam em torno dela.

 

Você pode estar pensando que boa parte das transações financeiras é já hoje feita digitalmente. Verdade. As economias e o Capital são, hoje, majoritariamente digitais. Só que até agora, a única forma dos bancos Centrais emitirem dinheiro circulante é por meio de notas e moedas em espécie. Papel pintado impresso, em última análise.

 

Com a criação dos CBDCs, será também possível emitir moedas no formato virtual, colocando em circulação um dinheiro que, na real, nunca foi, nem nunca será, impresso.

 

E isso é uma revolução.

 

Como você é uma pessoa inteligente, deve já estar pensando assim: peraí, mas isso já existe e se chama criptomoeda. Só que não. Isso não é criptomoeda.

 

Uma moeda digital emitida por um Banco Central é regulada e gerida pela autoridade financeira do País de forma (como o próprio nome do banco já revela) centralizada. Os Bancos Centrais regulam o sistema financeiro de uma Nação.

 

Já as criptomoedas vivem sua vidinha particular e à margem desse controle. São emitidas e geridas por um sistema descentralizado por essência, inscrito no blockchain. Quem regula esse mercado é o próprio mercado e seus players. E as transações em si.

 

Outra coisa importante é que as moedas digitais, ao contrário das criptomeodas, que são prioritariamente consideradas ativos financeiros, poderão ser utilizadas para comprar pão na padaria. 

 

Ainda vamos pagar o portuga da padaria com criptomoedas um dia, mas esse dia ainda está meio longe. As moedas digitais vão funcionar como funcionam hoje, por exemplo, os cartões de débito. E boas.

 

Aliás, está aí a exata maior razão dos Bancos Centrais estarem, agora, se preocupando com esse assunto. A economia das instâncias privadas está passando a controlar parte dos sistemas financeiros nacionais e globais, criando como que uma economia virtual paralela e ou os Bancos Centrais começam a jogar esse jogo, ou, como tudo no mundo digital, serão desintermediados e disrompidos. Poeira do passado. Perdem poder. E nenhum Banco Central evidentemente quer isso.

 

E porque os Bancos Centrais não resolvem logo essa parada e lançam suas moedas digitais? Porque são instituições pesadas, caretas, cheias de amarras e compliances financeiras e políticas.

 

O Banco Central do Reino Unido dá uma resumidinha, em documento emitido sobre o tema, dos receios dessas instituições. Uma das principais é que os Bancos Centrais precisam se preocupar com o sistema bancário privado, que começa a jogar o jogo das criptomeodas agora, mas se sente ameaçado por toda essa movimentação que desloca de suas mãos o controle centenário do mercado financeiro. Traduzindo rapidinho aqui, os ingleses dizem assim:

 

Qual é a ameaça precisa representada por moedas digitais emitidas de forma privada? O que um CBDC poderia fazer para compensar qualquer ameaça e qual é o seu papel de regulação? Como uma CBDC pode ser uma opção de pagamentos competitiva sem causar um nível de desintermediação do setor bancário, que teria consequências para a alocação de crédito e estabilidade financeira? Como um CBDC pode garantir fortes salvaguardas de privacidade e, ao mesmo tempo, atender às regras de conformidade financeira? Quais são os principais riscos de segurança internacional e nacional que surgem de um CBDC, e como eles podem ser gerenciados?”

 

E por aí vai. Você entendeu.

 

As CDBCs, tudo indica, virão, de uma forma ou de outra. E o dinheiro, como o conhecíamos, vai ganhar, com isso, de forma ainda mais marcante do que já experimenta hoje, uma nova natureza e um novo formato. A virtualização da moeda está na bica de acontecer e ser 100% da grana que usamos.

 

Acompanhe e verás.

 

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