Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital.
As contas não andam fechando direito faz algum tempo e os fundos de VC enfrentam o desafio de voltarem a ser, como já foram, operações de boa rentabilidade para investidores e gestores.
No SXSW deste ano, esse foi o tema do painel Rethinking the Math: Right Sizing the Venture Capital Model, que teve como hosts a simpática âncora e debatedora, a investidora Batual Joffrey, ao lado do empertigado, mas experiente e bem sucedido Bryce Roberts, Founding and Managing Partner do fundo Indie, de Salt Lake City.
Lembro-me de, assim que resolvi virar definitivamente, alguns anos atrás, a chave da minha vida e virar investidor e empreendedor, tendo a Pipeline Capital como minha nave-mãe, ao iniciar minha participação em eventos como este descrito acima, em que o tema era a discussão exatamente do mesmo assunto, me chocava ver que os números da indústria apontavam para um índice de sucesso de cerca de 5%. Quer dizer, só 5% das companhias conseguiam ser bem sucedidas no setor.
Em qualquer outro setor, esse indicador deveria dizer uma e apenas uma coisa: ineficiência, porque deixa certamente muita coisa de fora e, sem dúvida, dinheiro de rentabilidade de investimentos na mesa.
Mas o mood era exatamente o oposto O sistema se orgulhava disso. Se era assim, era porque o funil era rigoroso em busca do ganho maior e do maior retorno aos gestores e investidores.
A busca era simples: encontre, nutra e faça crescer um Unicórnio. Ou seja, tudo fora dessa lógica unívoca e monocórdia, além de baixa originalidade financeira, era fria. Coisa de quem não é competente e não sabe investir.
Sempre achei isso uma grande bobagem, porque tem muito dinheiro para ganhar fora desse cercadinho cheio de bichinhos cor de rosa com chifre fru fru e movido apenas a múltiplos de altos duplos dígitos
Bom, foi exatamente essa a conclusão do painel aqui. Óbvia. O sistema ruiu. Há um monte de fundos zumbis ainda atuando no mercado, mas andando de lado, trocando o almoço pela janta. E começa agora o inevitável redirecionamento, reposicionamento e reconceituação da matemática dos VCs.
A esmagadora maioria dos investimentos de 2022, nos mostrou a Joffrey, foi já para startups que não deverão vir necessariamente a ser unicórnios. Parte significativa também passou a ser investida menos em aventuras de transformação planetária e mais em ventures e startups com tese menos disruptivas e, espera-se, mais seguras.
No momento, os volumes de investimentos e de startups recebendo funding estão muuuito abaixo de anos anteriores. Devem retomar em 2024 (teremos que ter ainda um pouco de paciência) para até o final do ano voltarem a patamares de 2020, que seja (2021 foi o boom que levou ao estouro da bolha no ano seguinte, com um volume de investimentos altíssimos e a valuations estratosféricos).
Nesse cenário, no entanto, uma nova bolha já começa a se formar: a de AI. Um em cada três dólares do mercado de VC está já sendo aportado em AI. Tipo, seja lá o que for, traz aí.
Como nem os cientistas, nem os pesquisadores, nem os desenvolvedores, nem os empreendedores, muito menos os investidores conseguem agora saber o que dará ou não certo em AI, trata-se já de uma desgovernada corrida ao ouro.
Bolha de novo. Agora, com capacidade exponencial de explosão.
Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital. Originalmente publicado no Meio & Mensagem.
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