Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital.
Olha uma wallet nova ali! Viu não? Ooops… olha outra ali! Essa você viu, né?
Bom, você já deve ter visto um monte de wallets novas por aí, eu suponho. Algumas, você talvez nem tenha percebido que viu, mas viu. E não percebeu porque, muitas vezes, elas têm outros nomes e formatos diferenciados, mas são wallets.
Wallets são meios de pagamento digitais. Simples assim.
Sua beleza, para usuários e gestores das wallets, é que você pode concentrar e gerenciar digitalmente seus pagamentos num único lugar. De um ou de múltiplos players. E players podem ser, bem, da padaria da esquina ao Google. Todo mundo agora quer ter uma wallet.
E por quê?
Bem, porque quando um estabelecimento, qualquer um, oferece uma wallet, ele passa a ser um “banquinho”. Banco quer dizer banco mesmo. Claro que não um barco clássico completão, mas passa a ser um player financeiro, uma fintech. E a vantagem disso é que passa a poder cobrar taxas igualmente financeiras pelo serviço de intermediação de pagamentos, além de fidelizar seu público e ter dados de comportamento de compra e consumo, além de financeiros, dele. Com as óbvias vantagens e oportunidades de escala que isso representa.
Entendamos que, de agora em diante, a gestão do dinheiro não está mais exclusivamente nas mãos dos bancos tradicionais, como antes. A tecnologia digital permite que meios de pagamentos se multipliquem como cogumelos e isso constitui o ambiente promissor das wallets.
Estamos falando de aplicativos relativamente simples, que com APIs igualmente simples, estão cada vez mais dominadas democraticamente por um número cada vez maior de desenvolvedores tech.
Há os compliances legais para você operar uma wallet, mas até nesse âmbito as regras de negócio e de governança estão cada vez mais flexíveis.
O problema é que todo mundo agora quer oferecer sua wallet proprietária. E aí, a briga concorrencial cresce.
Ganha essa batalha quem tem já grandes contingentes de usuários e/ou audiência. Consumidores, em suma, em sua base. Mas ter a base nem sempre significa ter a liderança do mercado, porque muitos players têm muitas bases. E aí, como é que fica?
Em estudo recente, a consultoria CB Insights analisou como as big techs estão querendo virar fintechs. Com suas wallets e muito mais. Quase virando bancos mesmo.
Montar um banco digital hoje está longe de ser um bicho de sete cabeças. Pode até ser um bicho, sei lá, de umas três ou quatro cabeças. Mas é só. Dá perfeitamente para encarar.
As tais big techs (coloca na lista aí Facebook, Google, Apple, Amazon, entre outras), revela o estudo, estão investindo em tecnologia e marketing para criar suas próprias wallets ou seus próprios meios de pagamento.
O Google, aponta a CB, é o gigante tecnológico mais ativo com foco em fintech. Liderou o grande volume de investimentos em tecnologia no setor, seguido pela Amazon.
O GV (Google Ventures) é o braço de ventures do Google e foi o responsável pelo maior volume de aquisições de fintechs de 2016 a 2021. É o Google virando banco.
Se você tem um aparelho Apple, tem também uma Apple Pay. Uma wallet da Apple. Enfim, você entendeu.
Abaixo, o fluxo de investimentos das big techs no mundo fintech.
Todos os grandes marketplaces internacionais e os que operam no Brasil, têm ou terão sua própria wallet. Todos os players que movimentam/intermediam grandes volumes de transações comerciais ou de benefícios, por exemplo, são candidatos a ter sua própria wallet. Até mesmo publishers podem ter a sua, certo? Porque não?
O UOL percebeu isso há anos e criou o Pagseguro. Fez IPO com ele e criou uma operação bilionária. Em dólar.
O Pagseguro não é bem uma wallet clássica, mas é uma fintech de meios de pagamento. Mesma praia.
Veremos mais e mais wallets surgindo e elas fazem o maior sentido surgirem mesmo. É o disrompimento da cadeia de valor tradicional do mercado financeiro antes extremamente concentrado, agora se desconcentrando e incluindo muito mais elos na corrente.
É bom isso, mas a briga vai ser boa. Bom também vai ser acompanhar como ela vai se desenrolar.
*Texto original no Innovationinsider, julho de 2021.