A inovação é economicamente democrática?

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Matéria da revista Exame, por Pyr Marcondes, Senior Partner da Pipeline Capital Tech. Leia na íntegra aqui.

Não, infelizmente, a inovação não é democrática. Assim como a tecnologia que muitas vezes a promove. Num mundo acelerado pela inovação tecnológica, a maior probabilidade é que a concentração do poder econômico se acelere, não o oposto.

Houve um momento em que o mundo digital foi considerado uma possível grande saída para a redução do abismo econômico entre as camadas vulneráveis das sociedades e os que detêm e concentram o poder econômico. Mas esses se provaram tempos ingênuos, em que apesar da teoria estar rigorosamente certa tanto do ponto de vista conceitual como técnico, não foram exatamente os princípios de igualdade e busca de inserção que se tornaram a regra. Ao contrário: inovação é hoje, como tantas outras formas de controle, fator de aprofundamento da concentração e da dominação.

Elon Musk esteve no Brasil e um de seus projetos para o país é levar internet para populações carentes desse item hoje de alta necessidade, residentes em locais afastados da malha atual de conexão que o País pode oferecer. Independentemente de sua opinião sobre o Musk – eu tenho várias opiniões sobre o Musk também – objetivamente, essa é, sem dúvida, uma forma de democratização de recursos que a inovação e a tecnologia podem promover.

Mas o downside – ou upside, dependendo do side que você está – é que o Musk ficará ainda mais bilionário e o impacto socioeconômico que ele, de fato, estará promovendo, não altera significativamente o ponteiro da balança da economia. Que venha a internet do Musk. Populações conectadas terão mais chances de sobreviver do que as desconectadas. Fato. Mas projetos assim apenas arranham a superfície. E muito embora possam ser bem-vindos, não alteraram a estrutura da ordem econômica em vigência.

Em reportagem reveladora, a última edição da revista MIT Technology Review nos alerta que o mesmo acontece com as startups internacionalmente, sendo elas hoje consideradas um dos mais poderosos motores de inovação da economia global. Seu poder de disrupção é avassalador e impiedoso. Os pequenos afrontando os grandes.

Mas igualmente avassalador e impiedoso é o poder econômico das grandes companhias que acabam por adquiri-las e se beneficiar, crescendo ainda mais, dos avanços promovidos por elas.

Ou seja, a inovação nasce nas bordas das sociedades e economias, mas em pouco tempo ela é absorvida pelo centro concentrador do capital, as grandes corporações.

O título da reportagem da revista é “Big technology is slowing innovation” (a grande tecnologia está reduzindo a inovação). Pelos motivos que descrevi acima.

A tendência, aponta a reportagem, é que o ritmo dos avanços inovadores promovidos pelas startups tenda a se arrefecer e não se incrementar.

É uma previsão negra, mas infelizmente com forte potencial de se tornar realidade. As startups poderiam significar um desvio do pêndulo da concentração econômica. Só que não.

Para as economias, caso confirmado, esse seria um acontecimento de alto impacto negativo, porque a dinâmica em que nos metemos é sedenta de inovação para suportar os avanços e a diferenciação das empresas e das economias. Das sociedades em geral, na verdade. E lidar com um cenário adverso desse tipo pode ser altamente prejudicial até mesmo para as grandes corporações.

Há como alterar tudo isso? Claro que sim. Passa pela mudança da estrutura de concentração econômica global. Que pode ser, sim, reformulada por políticas públicas e órgãos da decisão e gestão internacional, que pudessem criar normas e regras para que essa democratização da inovação ocorresse. Por decreto, com as devidas punições apostas.

É fácil que isso ocorra? Não. Em verdade, nem fácil, nem provável.

 

Matéria da revista Exame, por Pyr Marcondes, Senior Partner da Pipeline Capital Tech. Leia na íntegra aqui.

 

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