Volume de transações no Brasil mantém tendência de recuperação após queda na pandemia, mas segue abaixo da média em 2019. O mercado brasileiro registrou em outubro 128 fusões e aquisições que movimentaram R$ 15,1 bilhões.
O mercado brasileiro registrou em outubro 128 fusões e aquisições que movimentaram R$ 15,1 bilhões. O total reforça uma tendência de recuperação desde agosto e está bastante acima das 78 transações em abril, no auge da incerteza causada pela pandemia do coronavírus, mas o ritmo mensal de operações ainda segue abaixo do verificado em 2019. Em uma análise setorial, o destaque no ano fica, até aqui, fica por conta das startups de saúde e higiene, que já movimentaram 136% mais em 2020 do que no mesmo período de 2019.
No acumulado dos primeiros dez meses de 2020, o total de transações chegou a 1.133, movimentando R$ 182,9 bilhões. Isso representa uma queda de 8% no valor e de 11% no número de transações, na comparação com o mesmo período de 2019.
Os dados são do boletim mensal da consultoria Transactional Track Record (TTR), sediada em Madri, na Espanha.
Segundo a TTR, o destaque em outubro foi a compra da Embacorp, uma empresa de papel para embalagens e papelão ondulado da International Paper do Brasil, por R$ 330 milhões.
Setorialmente, o segmento de tecnologia e internet manteve a atratividade frente aos estrangeiros, com 85 transações em outubro, sem variação na comparação com o mesmo mês de 2019.
Já quando se observa as operações em que os compradores são brasileiros, o principal destino de investimentos segue sendo os EUA, com 20 negócios em um total de 47.
Com relação aos compradores, os Estados Unidos seguem na frente, com 95 transações no mês de outubro (74% do total), mas reduziram suas aquisições no Brasil em 14% na comparação com o mesmo mês de 2019.
Fundos estrangeiros de private equity e venture capital também reduziram seus investimentos no Brasil em 32%. Por outro lado, quando se observa o total desses fundos no acumulado do ano, incluindo os nacionais, houve aumento de 53% em relação a outubro de 2019, atingindo R$ 13,9 bilhões em 311 rodadas de investimento.
A explicação para esse aumento está na queda da taxa de juros, segundo Marcelo G. Ricupero, sócio do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados.
“Houve uma migração grande de investidores que saíram de outros investimentos para a bolsa. E isso também explica a importância do mercado local nas ofertas recentes. Acho que essa tendência pode continuar para 2021, dependendo, claro, da taxa de juros permanecer baixa, que, por sua vez, depende de uma série de outros fatores, como fluxo de investimento estrangeiro e a discussão sobre o teto de gastos do governo”, ele comenta.
Segundo ele, no curto prazo pode haver uma tendência de incremento das operações de fusão e aquisição envolvendo companhias que acessaram o mercado de capitais em 2020.
Outras tendências, ele diz, são a de operações de consolidação tendo como alvo grupos que foram mais afetados pela pandemia e negócios em mercados e indústrias que se mostraram resilientes à crise. “Destacaria alguns setores, como tecnologia, especialmente fintechs, biotechs e outras techs, ‘life science’ (hospitais e farmas) e infraestrutura, especialmente energia (mercado que se mostrou quente o ano todo), saneamento (que parece ser uma das apostas da vez), e logística, incluindo ferrovias e portos”, comenta o advogado.