Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital.
O ciclo natural seria mais ou menos assim: a startup surge primeiro na cabeça de uma, duas ou três pessoas, no máximo. Elas acreditam ter tido uma ideia que vai revolucionar o mundo. Ou o Brasil. Ou algum setor da economia que seja. Arranjam dinheiro de algum jeito para fomentar esse embrionário e promissor negócio. Quer dizer, não é bem um negócio ainda, é só uma ideia, por enquanto. Essa grana vem deles próprios ou de amigos e parentes, os “friends & family”. Em inglês, eles tem uma piadinha que diz “friends, family & fools”. Ou seja, além da família e dos amigos, trouxas que cometem a loucura de dar dinheiro na mão daqueles intrépidos empreendedores, que por enquanto, na real, nada tem. Já nesse estágio, pós o F&F, muitas morrem, mas outras caminham mais adiante e conseguem um investimento anjo. Ligam-se a uma aceleradora, às vezes, também. E vão crescendo. Aí, chegam no estágio dos VCs early stage, os fundos que hoje no Brasil já atuam a partir de cheques de R$ 500.000,00 ou até menos. Chegam aos VCs que operam em camadas mais altas, os late stage, com cheques que vão acima dos R$ 15.000.000,00. Em seguida, seguem para o que se chama de um Série A, em que entram já os fundos de Private Equity, com cheques acima de R$ 50 milhões. Pouco mais, pouco menos, dependendo de quem analisa o mercado. Bom, e aí vou encurtar a história, depois de alguns anos, quando já nem podem ser mais consideradas startups, porque já se consolidaram como empresas em estágios mais avançados, fazem um IPO num valor igual ou superior ao US$ 1 Bilhão. Essas são empresas Unicórnios, certo?
Bom, mais ou menos. No Brasil, como já acontece com frequência nos mercados mais evoluídos, o que está acontecendo é que empresas consideradas startups, porque estariam ainda, em tese, no meio da trajetória de todo esse ciclo de expansão e crescimento, tem sido já negociadas em Bolsa pelos tais US$ 1 Bilhão ou mais, o que as torna uma espécie de Unicórnios precoces diante dos padrões normais.
O primeiro Unicórnio do País, a 99, abriu suas ações em Bolsa em 2017, com suporte da Monashees. Um marco que começava a nos colocar nesse estágio de evolução mais avançada dos investimentos e negócios de startups. Era não só o primeiro IPO de um Unicórnio, como já um Unicórnio precoce.
Considerando aqui uma linha de corte de 5 a 6 anos de vida, o Brasil tem hoje 6 startups assim. Além da própria 99, que abriu ações em Bolsa após 5 anos de vida, temos, na sequência cronológica de abertura de capital: Nubank (5 anos, IPO em 2018); Stone (6 anos, IPO em 2018), Loggi ( (6 anos, IPO em 2019), Quinto Andar (6 anos, IPO em 2019), e agora as recordistas em tempo curto até virarem Unicórnios, a Loft (2 anos, IPO em 2020) e a Creditas (2 anos, IPO em 2020).
Podemos reparar que, então, de 5 a 6 anos para cá, o fenômeno de aceleração dos Unicórnios precoces cresceu e que essa pode ser considerada uma tendência em que novos casos poderão ocorrer, significando tudo isso uma consequência reflexa da maturidade das startups, dos seus gestores e de todo o ecossistema de investimentos no País.
Temos hoje uma lista de 20 Unicórnios brasileiros, que inclui, além das 6 que citei acima, as seguintes: PagSeguro (12 anos até o IPO em 2018), Arco (14 anos até o IPO em 2018), Movile (20 anos até o IPO em 2018), iFood (que é da Movile, 7 anos até o IPO em 2018), Gympass (7 anos até o IPO em 2019), Ebanx (7 anos até o IPO em 2019), WildLife Studio (8 anos até o IPO em 2019), Vtex (21 anos até o IPO em 2020), C6 Bank (8 anos até o IPO em 2020), Madeira Madeira (12 anos até o IPO em 2021), Hotmart (10 anos até o IPO em 2021), Mercado Bitcoin (8 anos até o IPO em 2021) e Unico (14 anos até o IPO em 2021).
Demoramos muito tempo no Brasil para engrenar. Os elos da cadeia de investimento, que viabilizam todos esses fenômenos e dão suporte à evolução de todas essas startups grandonas e muitas milhares de outras mais hoje no Brasil, ganhou tração mais sólida exatamente no período que propus aqui como corte, ou seja, de 5 anos para cá. Não é coincidência: uma coisa tem totalmente a ver com a outra. Aliás, são uma coisa só, já que é tudo um ecossistema integrado.
Muito bom tudo isso para investidores, startups, empreendedores e para toda a economia do País.