O histórico e polêmico momento em que jornalismo vira ChatGPT. Por Pyr Marcondes, Senior Partner, Pipeline Capital

O histórico e polêmico momento em que jornalismo vira ChatGPT

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No lugar das lamúrias, players do segmento devem trabalhar em linha com os tecnólogos mais avançados do mundo, para ficar na vanguarda ao lado deles

Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital.

Se você não acompanhou, segue um rápido resumo, uma linha do tempo, de empresas jornalísticas das mais importantes do mundo que acabam de fazer acordo com o ChatGPT.

Vamos discutir se isso é bom, ruim ou muito pelo contrário.

Linha do tempo de acordos entre editores e ChatGPT

  1. Janeiro: Associated Press
    Colaboração para melhorar os modelos de IA da OpenAI;

  2. Fevereiro: Le Monde e Prisa Media
    Acordo para permitir que os usuários do ChatGPT acessem conteúdo de alta qualidade sobre eventos recentes;

  3. Março: Financial Times
    Acordo para fornecer conteúdo exclusivo e colaborar no desenvolvimento de novos produtos baseados em IA, ajudando a melhorar a qualidade e relevância das respostas do ChatGPT;

  4. Abril: Axel Springer
    Parceria com um dos maiores editores do mundo para enriquecer a experiência dos usuários do ChatGPT com conteúdo atualizado e autoral, incluindo histórias e reportagens exclusivas;

  5. Maio: The Atlantic e Vox Media
    Parceria para fornecer resumos e links para artigos originais no ChatGPT.

Para o ChatGPT, essas parcerias são cruciais porque:

Conteúdo de qualidade
Permite o acesso a conteúdo de alta qualidade e atualizado, essencial para melhorar a precisão e relevância das respostas do ChatGPT;

Credibilidade
A colaboração com publishers renomados aumenta a credibilidade e confiabilidade do ChatGPT como ferramenta de informação;

Treinamento de IA
Este é o mais importante de todos. Os dados fornecidos por essas parcerias são valiosos para o treinamento e aprimoramento contínuo dos modelos de IA.

Críticas e desvantagens para os publishers

Dependência e perda de controle
Críticos argumentam que os publishers podem se tornar excessivamente dependentes do ChatGPT para distribuição e monetização, perdendo controle sobre seu conteúdo e audiência;

Fonte crítica: “Essa dependência do ChatGPT pode levar a uma situação em que os editores não controlam mais suas próprias narrativas e as decisões algorítmicas da OpenAI começam a ditar quais histórias têm visibilidade”.
The Guardian

Desvalorização do conteúdo
Há preocupações de que o conteúdo dos publishers seja desvalorizado, já que os resumos e respostas geradas pelo ChatGPT podem reduzir o tráfego direto para os sites dos editores;

Fonte crítica: “O risco é que as pessoas obtenham informações suficientes do resumo gerado pela IA, sem a necessidade de visitar o site original, diminuindo a receita de publicidade e assinaturas”.
New York Times

Só mudamos a história se mudarmos nós mesmos

Eu era country manager de um portal de internet (de conteúdo e serviços, um editor, portanto) chamado Starmedia, e também colunista colaborador do jornal Valor Econômico, isso ali no final da década de 1990 e início dos anos 2000.

Ninguém precisou me contar. Vivi esse momento histórico na pele, na vida e no olho do furacão.

Editores em geral se opuseram à indexação de sua produção e conteúdos pelo Google, temendo perda de controle e sua própria relevância.

Ali, cometeram o primeiro de uma série de erros crassos de interpretação da história (por um misto de ignorância atávica e arrogância) e pagam por isso até hoje.

Antes disso, haviam já se oposto à chegada da própria internet e a grande maioria achava que ela seria não mais que uma tecnologia passageira.

Eu estava lá. Eu vi. Não me peçam, que cito um a um, a quem desejar, nomes de empresários, jornalistas e editores do nosso mundo da mídia que tinham essa pétrea posição.

Vai vendo.

Ali, dizia, a indústria editorial deveria ter sido ela, não o Google, a inventar as plataformas de indexação e busca, porque sempre foram elas as detentoras da produção de conteúdo e sua distribuição.

Agora é tudo igual.

Ao invés de serem revisionistas de uma história que está, obviamente, e uma vez mais, sendo escrita à sua revelia, editores, jornalistas e empresários do setor deveriam imediata e urgentemente assumir um protagonismo inédito, e fazer o seguinte:

  1. Otimizar sua monetização e distribuição
    Incorporando novas origens de receita e aumentando a distribuição de seus conteúdos, sob seu controle;

  2. Inovação e relevância
    Permanecer na vanguarda tecnológica e garantir que seus conteúdos sejam relevantes e acessíveis no contexto dessas novas tecnologias;

  3. Acesso a dados
    Beneficiar-se do acesso a dados e análises proporcionadas pelo uso de IA, ajudando na compreensão dos comportamentos e preferências dos seus leitores;

  4. Usar e criar IA generativa
    Para otimizar sua capacidade editorial analítica e crítica, atributos essencialmente jornalísticos.

Então é o seguinte e, na verdade, é estupidamente simples (o uso de uma expressão ligada à estupidez não é, aqui, um acidente de linguagem … nota do editor): trabalhar em linha com os tecnólogos mais avançados do mundo, para ficar na vanguarda ao lado deles, que irão, nos agrade isso ou não (é verdadeiramente irrelevante nosso sentimento de lamúria) inevitavelmente, escrever a história do futuro.

Como todo risco, esta é uma OPORTUNIDADE. E única!

A opção é, uma vez mais, ficar atrás e a reboque, reclamando como adolescentes rebeldes pasmados. Como sempre.

Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner na Pipeline Capital.
Originalmente publicado no Meio & Mensagem.

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