Texto de Pyr Marcondes, Senior Partner da Pipeline Capital Tech.
Em pouco mais de 20 anos, com ênfase exponencial nos últimos 10 anos, o espírito do tempo na relação entre corporações e startups evoluiu de uma dinâmica experimental esporádica para uma interdependência e uma interconexão profundamente transformadoras. Tornou-se um caso sério.
Capturar o espírito do tempo é coisa que os filósofos alemães dominam como ninguém. Zeitgeist é o termo que usam para isso. Ele, usualmente, não se aplica a micro universos, já que o espírito do tempo é tão grande quanto, bem, tudo num determinado tempo. Mas vou tomar minhas chances aqui.
Creio, como uma seita, que as startups são a maior força transformadora das economias globais destes e dos próximos anos à frente. Elas, em conjunto com as corporações, a academia e os laboratórios, habitáculos da ciência, estão mudando tudo à nossa volta e no como vivemos. São o motor do espírito destes novos tempos. Zeitgeist.
No nosso caso aqui, trata-se de refletir sobre essa relação, por vezes ambígua e, conceitualmente, com frequência, contraditória, entre as grandes companhias e essas pequenas mas poderosíssimas máquinas de disrupção. E como esse zeitgeist vai evoluir no tempo do Tempo.
Espírito e alma: tudo digital
O espírito do nosso tempo é digital e encontra-se embrenhado de algoritmos até a alma. Poderíamos chamá-lo de “A Era dos Algoritmos”. As economias tornaram-se igualmente digitais e tecnologicamente operadas, a ponto de terem se transformado em verdadeiros sistemas operacionais.
Para o mundo corporativo, essa revolução foi de morte (já que estamos falando de coisas que vivem e existem no seu tempo). Morte porque, sem o devido domínio de toda essa transformação, o destino de toda companhia é a obsolescência e o definhamento, até sua extinção mercadológica. Morte.
Dentro de seu corpo é possível, sim, evoluir e, de maneira proprietária, desenvolver-se diante da nova dinâmica. Mas, dificilmente, todas as soluções e evoluções estarão sempre dentro de casa. Ao contrário, só a aliança com as estruturas que mais e melhor captam o espírito do nosso tempo é que salvará as corporações de definharem sem apelo.
O ritmo e velocidade dessa simbiose tecno-empresarial só vão se acelerar, por inevitável, pelas razões que expus acima. Da mesma forma, a profundidade dessa interdependência só se tornará mais e mais complexa.
As maiores empresas-plataforma tech do mundo, aquelas que lideram hoje as transformações e avanços tecnológico digital no mundo, só chegaram onde estão porque, via um movimento de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês), adquiriram centenas e centenas de outras companhias, mais disruptivas do que elas. Em sua esmagadora maioria, startups.
O M&A é um mecanismo de apropriação de evolução altamente eficaz, sem dúvida, mas não é o único.
As corporações estão hoje criando programas internos de fomento ao intraempreendedorismo e aceleração de startups em seu próprio ambiente empresarial. Ou investindo em grupos estruturados de suporte a startups, beneficiando-se da proximidade e intimidade com elas. É o corporate venture ganhando dimensões inéditas na história.
São mecanismos de sobrevivência, esses. E evolução da espécie. Espécie, entenda-se, corporativus sobreviventae.
Matéria completa em STARTUPI em 17 de novembro de 2021.