Novas rotinas de trabalho e produção trouxeram à tona algo inadiável: é preciso que gestores se comuniquem melhor com suas equipes; trabalho remoto pode favorecer produtividade
Inúmeros desafios foram trazidos com a crise sanitária global e as agências tiveram que rever ou acelerar processos que já estavam acontecendo dentro de seus ecossistemas. Hoje responsável por uma estrutura composta por centenas de pessoas, Pedro Reiss, CEO da Wunderman Thompson Brasil, acredita que a principal ferramenta para ser efetivo dentro de um cenário tão desafiador é a boa comunicação. “Eu sempre busquei ser bastante transparente na minha liderança. O que mudou foi comunicar pra caramba, não há excesso de comunicação. O papel do CEO é ser claro e muito comunicativo com todo mundo, ainda mais nesse momento que a gente está passando”, reforça.
Um outro ponto positivo que o gestor enxerga em meio ao cenário da pandemia, é a quebra da “divisão forçada” entre vida pessoal e profissional. Para ele, o “vestir a camisa da empresa” de modo estritamente profissional, não contribui para o desenvolvimento das potencialidades de cada pessoa. “Todo líder está sendo obrigado a entender como lidar melhor com as pessoas, como elas são, as dificuldades que elas têm, assim como as potencialidades. E essa coisa da mistura da vida profissional e pessoal, eu acho saudável”, pontua.
A rotina do home office, além de alterar as relações entre pessoas, também modificou os processos criativos dentro das agências. Segundo Álvaro Pacheco, sócio e head de operações da Pipeline Capital, cerca de 80% dos insights de companhias do setor de serviços acontecem fora dos ambientes formais das reuniões, mas sim, nos momentos mais descontraídos, como cafés, almoços, conversas de corredor, etc.
Reiss acredita que perde-se muito com a falta do contato social, pela maior proximidade com outros colegas, mas por outro lado, ganha-se na produtividade e maior liberdade na condução do trabalho. “É importante que o processo criativo seja, mais do que nunca, menos formal, mesclando momentos de descontração, com momentos mais sérios, para que boas ideias floresçam”, comenta.
Aproveitando o contexto da latente digitalização trazida pela pandemia, Pedro Reiss aproveita para nos relembrar de como a relação entre pessoas e empresas mudou ao longo dos últimos anos: “saímos do unilateral, para a construção em conjunto. Consumidores e marcas estão se relacionando de uma forma mais saudável”. Além disso, ainda segundo o executivo, agências e marcas estão trabalhando forte nas questões de posicionamento, focando mais no propósito e menos na execução.
Uma outra mudança levantada por Reiss é a fusão do ‘awareness’ e a transação dentro de um mesmo ambiente, em outras palavras, as empresas estão construindo a sua marca e vendendo (com o subsídio de dados, de plataformas, etc.) num mesmo lugar. “Acho que qualquer concentração prejudica o mercado porque tira o direito de escolha, a competitividade, dinâmica que beneficia a todos os stakeholders do ecossistema, o que está acontecendo lá fora já é preocupante”, pondera Pacheco.
Por fim, Reiss acredita não ser possível detectar as mudanças que a pandemia vai acarretar no comportamento das pessoas. Segundo ele, cada indivíduo vai processar essa experiência de uma maneira única para o resto da vida. “Cada um vai olhar com mais foco para aquilo que é mais importante e tentar dispensar menos recursos com aquilo que não faz tanta diferença”, conclui.